“Seja você a mudança”. Você, quem?

Em 17 de setembro, “O Progresso” noticiou que Dourados recebeu nos últimos 5 meses, 487 novas empresas, ou seja, três novas firmas por dia. Nada mal diante da crise nacional e internacional pela qual passa mais uma vez o sistema capitalista. Poderíamos dizer que estamos vivendo em um oásis onde não somente novos estabelecimentos são abertos, mas que também loteamentos, para todos os padrões, estão sendo implantados em todos os cantos da cidade. Deduzimos que esse boom resulta no aumento da arrecadação do município, na geração de novos empregos e, como via de consequência, aumento da renda dos trabalhadores que lhes possibilita aquisição de veículos, aumentando o tráfego.

Chegamos ao ponto. A partir de ontem estamos vivendo a Semana Nacional do Trânsito, prevista no Código de Trânsito desde 1997. Essa semana, é sabido, visa a conscientização dos cidadãos em relação ao trânsito e o tema, “seja você a mudança”, ao que tudo indica, aponta apenas para os usuários, sejam eles pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas de carros leves ou pesados. Nada mais justo que cada um de nós tenhamos mais cuidados, mas será que o tema proposto inclui também os responsáveis pelo ordenamento do trânsito?

Em 1997 escrevi que o carro ainda se tornaria o maior inimigo do homem e em 2006, no livro Edificando a Nossa Cidade Educadora (veja [email protected]) fiz uma ironia dizendo que as faixas para pedestres eram pintadas em branco, cor que simboliza a paz, mas que se algum cidadão se aventurasse a atravessar a rua pela faixa, imaginando que os carros respeitariam, ele atingiria sim a paz, mas a paz eterna. Na mesma obra fiz um desafio, dentro de dois anos os cidadãos poderiam atravessar pela faixa, pois o Projeto Cidade Educadora, aliado aos órgãos de trânsito, já haviam iniciado forte campanha para que isso fosse possível. Passados não dois, mas nove anos, ainda as nossas faixas servem apenas como enfeites.

De qualquer forma a semana do trânsito é projeto louvável. Vamos apoia-lo, pois temos obrigação de sermos responsáveis. Lembro-me que em 2006 lançamos uma campanha, com um adesivo que colávamos na traseira dos carros, onde se lia: “eu respeito a faixa”. Isso fazia com que o motorista que viesse atrás se prevenisse, mas qual não foi minha decepção quando pedi pessoalmente para colar um desses adesivos no carro de uma autoridade local e ela não permitiu dizendo-me que se colasse teria obrigação de respeitar mesmo, então não colaria. Ora, esquecia-se essa pessoa de que todos somos pedestres.

Mas, repito, e as autoridades? O governador Pucinelli, por exemplo, prometeu-nos a duplicação da Av. Guaicurus para outubro do ano passado. Outubro passou, já estamos com nove meses do governo Azambuja e aquela importante via ainda está em obras. Obras desleixadas, com sinalização precária, buracos, desvios, iluminação ruim, quando existe. Enfim, é de dar calafrios em quem trafega à noite por ela.  É um ultraje ao usuário.

Quanto ao governo municipal cabe também grande responsabilidade, para não dizer culpa. Uma cidade sem buracos no asfalto, com sinalização adequada, com regulação do tráfego, com ciclovias e faixas para pedestres colocadas em locais que permitam realmente o seu uso, seriam ingredientes importantes para minimizar os acidentes.

Imagino também que o Ministério Público esteja atento, que o Tribunal de Contas não se descuide, enfim, que a Justiça também tenha a sua parte de responsabilidade. Penso que será justo dividirmos a culpa em fardos, a começar por mim, mas que “um tanto fique para os vereadores, outro com o prefeito, mais um tanto para os juízes, outro para os promotores. O tabelião e o general não poderão ficar de fora, mais um fardo haverá de ser dado ao bispo, outros serão distribuídos no Conselho de Pastores. E aos dirigentes de outras crenças devem ir um tanto quanto, mas que não fiquem sem os seus fardos também os professores, a polícia e os doutores, sejam estes médicos, advogados, filósofos ou administradores. Quantos fardos ainda restam? Contemplemos os comerciantes os feirantes, os estudantes, a costureira, o amante, o comerciário, o bancário e todos os ajudantes”. (In. Edificando nossa Cidade Educadora”).

E viva a vida, pois nosso corpo não foi feito para morrer no trânsito.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

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